segunda-feira, 12 de abril de 2010

Entrando em campo


Não tem jeito. Intelectuais que se ofendam, se alguém fala em futebol, fala do Brasil . O inverso é inevitável, e perfeitamente coerente: aqui se nasce de chuteiras, é um lance cultural, quase genético. O Brasil não é todo futebol, mas o futebol está em todo brasileiro.
Quando falo de chuteiras, falo do modelo caro e cafona, divulgado por uma paquita do Real Madrid ou um craque do Barça, a ser calçado por um filho de magnata da zona sul de São Paulo sem muita vocação para o esporte, mas também da lama de várzea que encobre os pés de um filho de pescadores no Piauí que traz no sangue a habilidade que nos trouxe cinco copas do mundo. A disparidade social do país fica suspensa enquanto a bola estiver rolando.
Os politizados que se revoltem, mas o esporte não tem nada que ver com a desigualdade. A indústria que fizeram dele, sim. Mas quando o país para pra ver a final do Brasileirão, não é essa indústria a responsável pelo fenômeno, é o esporte. Ou melhor, a paixão que ele move.

Fanáticos que vejam sacrilégio onde não há, mas essa paixão, essa religião do futebol é a tradução do sincretismo brasileiro. Os apóstolos em combate, a entidade maligna que sopra o apito e uma redonda divindade que, vaidosa e imprevisivelmente, decreta a cada rodada quem vai pro céu ou para o inferno, formam o panteão, adorado por centenas milhares de fiéis. Os praticantes sempre dão um jeito de comparecer aos templos, seja no final ou no meio da semana, seja perto de casa ou fora do país.
O futebol é a marca mais abrangente da cultura tupiniquim. Maior que o samba, que as manifestações regionais, que o folclore, quase maior que a abrangência da Globo. É preconceito e "pseudointelectualismo" negar-lhe essa característica. E sem reconhecer o cidadão brasileiro como ele é, e ignorar o traço mais marcante de sua cultura, é impossível compreender o Brasil. Pena que tantos fazem questão de desprezá-lo. Que se pode fazer? Bola pra frente, que o nosso time tá ganhando!

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